sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Quinzena da Cidadania chega a Lembá para um dia dedicado aos direitos das crianças e jovens


O Salão Paroquial de Neves foi palco de um workshop subordinado ao tema “Crianças e jovens em situação de fragilidade antes e pós Covid”. Nesta actividade promovida no âmbito da Quinzena da Cidadania, tomaram parte cinquenta crianças e jovens de quinto e nono anos, professores e o poder local. O palco serviu para se debater a problemática da Covid-19 bem como as diversas formas de violência contra as crianças e jovens.

A procuradora do Ministério Público, Vera Cravid, através de linguagens simples e terra a terra, começou por explicar aos participantes a importância de se usar a máscara e se proteger da pandemia para depois introduzir questões ligadas aos abusos sexuais e maus tratos. “Não são os outros que vão nos salvar, nós é que temos de nos salvar. Se a mãe comprou máscara para mim então eu vou usá-la em todos os lados. Além disso, é preciso lavar sempre as mãos. Vocês precisam saber também que as crianças devem ajudar os pais em casa, mas não fazer trabalhos forçados como ir apanhar búzio sozinho desde manhã até a noite. Além disso, quero vos alertar para o abuso sexual. Vocês não podem deixar ninguém vos tocar, não devem receber nada na mão de pessoas estranhas. Não andem à frente do motoqueiro, sentem-se da parte de trás porque não se sabe quem é quem. E quando vocês forem abusados devem contar os pais, não podem sentir vergonha. E se for alguém familiar por favor conversem com o professor ou professora para se denunciar e resolver a situação”.

Vera Cravid
A oradora Vera Cravid disse ainda que a experiência com as crianças foi gratificante, pois foi possível “perceber que os participantes têm conhecimentos sobre Covid-19, têm noção que devem se proteger, que é o fundamental. É de salutar esse trabalho feito nas escolas, em casa pelos encarregados da educação que souberam transmitir estes ensinamentos aos meninos aqui do distrito de Lembá. Todas as crianças tinham máscaras, apesar de algumas terem dificuldades em ficar com ela mas aconselhamos e tudo se resolveu. Eu espero também que levem as informações aos pais, nós ainda estamos no estado de calamidade por isso é necessário que as pessoas se protejam e encarem a situação com seriedade e realidade”.

Os participantes aplaudiram a iniciativa e mostraram o que aprenderam:

“eu aprendi que é obrigatório usar máscara para não pegar a doença. A senhora falou também que não podemos autorizar pessoas a pegarem nosso corpo porque não sabemos quem é abusador”, disse Márcia Luís.

Joel da Fonseca aluno da nona classe disse que é importante “todos usarem a máscara para o bem do país. Aprendi também que não devemos receber coisas nas mãos de pessoas estranhas e também se alguém tocar o nosso corpo sem nossa autorização temos de queixar”, referiu.

Além de workshop a actividade em Lembá, o evento contemplou ainda a apresentação de um jogral sobre abuso sexual de menores promovido pelas crianças das fundações Novo Futuro e da Criança e Juventude.

“Para a fundação todas as actividades realizadas com crianças e para as crianças são muito importantes, porque é uma forma de nós transmitirmos os nossos conhecimentos e verificarmos aquilo que elas sentem para podermos actuar. Elas são crianças localizadas por pessoas ou instituição e nós fazemos o acompanhamento até as recebermos na fundação ou damos apoio se for o caso. Colhemos sempre algo com actividades desta natureza. Aqui por exemplo, vimos que é necessário se fazer mais trabalhos com os mais novos, porque o número de crianças que encontramos é incrível e elas estão motivadas por actividades desta natureza. Isso mostra que estão dispostas a aprender algo novo apesar de sentirem o isolamento,” explicou Dulce Gomes, presidente da Fundação Novo Futuro.


O vereador para a área social da autarquia de Lembá realçou na sua intervenção que toda a esperança em mudança do paradigma actual do distrito está depositada nas crianças e adolescentes.“É com estas crianças que vamos preparar um futuro melhor, vamos preparar a verdadeira mudança de mentalidade, uma cultura moderna para o distrito de Lembá. Capacidade económica somente não basta, é preciso a capacidade humana, ter uma riqueza da massa cinzenta”.



“História de Alguns de Nós” é uma exposição itinerante que esteve patente durante toda a actividade. São histórias contadas na primeira pessoa por várias crianças como o Abílio, um rapaz curioso que foi para a Fundação Novo Futuro com 11 anos e agora encontra-se na Universidade de Braga a concluir os seus estudos. Podemos ver também a história de vida da Marlena que vivia em Lucumi e foi para a Fundação à procura de melhores condições de vida. Das histórias retratadas nesta exposição, a história de Patrick, um menino vítima de abusos físicos é a mais fascinante. Narra a luta, a persistência e a esperança em dias melhores deste menino de 15 anos.

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