terça-feira, 10 de novembro de 2015

“Quando as pessoas estão organizadas, não há poder que se recuse a responder às suas preocupações”

A constatação é de Alda Bandeira e feita num seminário organizado pela Federação das ONG em São Tomé e Príncipe sobre desenvolvimento local e a participação da sociedade civil organizada. A acção aconteceu na passada sexta-feira, 06 de Novembro de 2015, no Centro Paroquial de Neves, e contou com a presença de cerca de 50 pessoas entre professores, deputados, membros do poder autárquico e da assembleia distrital, membros das organizações da sociedade civil e outros.

Alda Bandeira, professora universitária
Alda Bandeira, professora, que dinamizou o seminário afirma que a participação política em São Tomé e Príncipe se faz muito bem. As eleições são muito participativas e há um bom clima de reconhecimento dos resultados eleitorais. Há assumpção por parte dos que vencem e dos que perdem sem conflitos. “Mas a participação democrática não se cinge apenas à participação nas eleições. É também participação da sociedade civil na governação, e nisto temos ainda grandes limitações. O primeiro pressuposto para que haja a participação é a consciência de que deve ser feita como um direito e que temos um dever de responder com a nossa participação. Temos o dever de intervir e de acompanhar aquilo que é o posicionamento e as opções dos nossos governantes. A este nível ainda temos que trabalhar bastante para aprimorar as organizações e consciencializar as pessoas, tanto os governantes como cidadãos, de que essa participação é importante para a transparência do próprio processo de governação”, precisou.

Uma das grandes preocupações das pessoas do distrito de Lembá, de acordo com Inácio Pinto, agricultor da localidade de Santa Geny, prende-se com a reforma ao nível da educação levado a cabo pelo XVI Governo. “As nossas crianças saem daqui até Cantagalo e Mé-Zóchi. Temos uma escola aqui no distrito, Escola de Campo, que podia ser reabilitada para as crianças estudarem mesmo aqui. As crianças saem de manhã e regressam de noite, e, por medo, muitos pais decidiram retirar as crianças da escola. Sobretudo em Santa Catarina, muitas crianças foram retiradas da escola porque os pais não têm como mandar os filhos até Cantagalo ou Mé-Zóchi. Como é que o nosso distrito se desenvolve se as nossas crianças não têm oportunidade de crescer? Inácio Pinto continua dizendo que essas crianças retiradas da escola são pessoas que podiam vir a ser professores, médicos, engenheiros, enfermeiro, etc, para ajudar a desenvolver o distrito e o país.

Em relação a essa questão, Alda Bandeira orienta “os pais de Lembá a se organizarem e proporem ao Governo o que pensam para resolver o problema. Só assim vão ser ouvidos. Certamente que a resposta virá à medida das possibilidades. O que deve ser retido aqui é que a sociedade civil não é uma pessoa. É um grupo que se organiza para resolver problemas específicos. Se falarmos isoladamente, as nossas preocupações terão pouca probabilidade de serem ouvidas. É fundamental estar organizado. Quando as pessoas estão organizadas, não há poder que se recuse a responder às suas preocupações”, concluiu.

Albertino Barros, professor em Neves
Para Albertino Barros, professor, muitas pessoas em Lembá precisam de orientação para poderem participar e as ONG têm um papel muito importante. “Seria bom que as organizações da sociedade civil de Lembá se juntassem para impulsionar a participação daqueles que se encontram de fora. Há pessoas que têm vontade de contribuir, mas não sabem como. Há ideias que devem ser aproveitadas para o desenvolvimento do distrito, mas não são exploradas porque não são levadas ao local certo. Se as ONG aqui no distrito se organizarem para orientarem essas pessoas, o desenvolvimento será uma meta mais alcançável”. 

Esta acção surge no quadro do projecto Sociedade Civil pelo Desenvolvimento, uma iniciativa conjunta da FONG e ACEP, e está a percorrer todos os distritos do país.

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