quarta-feira, 20 de novembro de 2019

“Areia da morte” exibida na Quinzena da Cidadania


 “Areia da morte”, a reportagem do jornalista da TVS José Bouças de Oliveira, foi exibida na Quinzena da Cidadania 2019. O trabalho, produzido em Novembro de 2015, chama a atenção das pessoas para a problemática da extracção abusiva de areia e as consequências para o país e a própria população. 

Dezenas de pessoas tomaram parte neste evento, onde o coordenador do projecto Eduardo Elba destacou o porquê da escolha desta reportagem: “Identificamos o filme como sendo também uma forma de participação. Traduz ao fim e ao cabo uma temática que é transversal, que tem a ver com a questão ambiental. A própria reportagem remete-nos ainda para outros aspectos do ponto de vista social, da camada jovem que não tem emprego e recorre à extracção de areia para a sobrevivência. E a reportagem relata a morte do cidadão que foi apanhado pelos militares e morto neste processo de extracção ilegal de areia. Está patente também a questão dos direitos humanos, pois quando um cidadão comum comete um crime ele é preso e perguntamos quanto o Estado mata, porquê que não é responsabilizado? Essa reportagem é muito rica e por isso a escolhemos”. 

A plateia inteira comoveu-se com a reportagem exibida. Tomaram as “dores” das pessoas que recorrem a estas práticas, mas pediram também maior intervenção do Estado para a resolução desta problemática que é a extracção abusiva de areia. “Eu gostei muito da reportagem e um facto curioso é que eu não tenho a apreciação se vejo ou não pessoas com sacos de areia na praça da independência, mesmo à vista de todos. Eu nunca prestei atenção a este facto. Eu penso que a televisão especificamente pode fazer um pouco mais, junto da população para fazê-la entender a gravidade da situação. A população deve ganhar consciência”. 

“Eu trago um pouco a experiência do meu país, Moçambique para dizer que é preciso ficarmos atentos aos sinais. Nós não temos extracção de areia, mas as pessoas constroem muito perto das praias e quando apareceu o ciclone Idai a cidade da Beira foi toda devastada. Temos muitos problemas por resolver, primeiro é a questão de pobreza porque as pessoas fazem extracção de areia porque não têm emprego, segundo é um trabalho árduo devido às mudanças climáticas. É preciso ser feito um trabalho de fundo para prevenir em STP uma possível catástrofe, porque os sinais estão visíveis. O Estado trabalha, mas a sociedade civil é o complemento do Estado e os media muito mais. Por isso, parabenizo o autor desta reportagem”, referiu Aquílcia Manjate, da fundação MASC, que está em S.Tomé para acompanhar alguns trabalhos da Quinzena da Cidadania. 

“Nós conhecemos empresas que tiram camiões de areia por dia. O importante é o Estado saber o que realmente quer. O povo está a ver essas empresas a tirarem areia... se povo não pode tirar areia como é que empresas vão tirar areia, sabendo que o governo deu alvará para uma empresa específica para extracção de areia? É complicado isso. E o povo é que sofre”. 

“Eu não tinha noção da gravidade da situação no país. E eu sinceramente gostei imenso da reportagem, porque as imagens ajudam as pessoas a perceberem, a tomarem consciência. O trabalho está muito bem feito, o jornalista está de parabéns.” 

Segundo o autor, a questão do turismo, paludismo e desemprego foram os factores que o motivaram a produzir este trabalho, uma vez que a reportagem “vem chamar a atenção das autoridades e da população em geral no sentido de colocar um ponto final nesta prática, que é muito prejudicial. Estamos a ver as praias descaracterizadas, algumas zonas com enormes crateras e buracos e nesta época chuvosa isso se converteu em pântanos. Vemos os esforços das autoridades para construir estradas, eliminar o paludismo e todo esse esforço poderá cair por terra se não houver travagem relativamente a isso”, disse José Bouças de Oliveira 

Na reportagem, o jornalista menciona também a existência de um decreto que é pouco divulgado sobre a possibilidade das pessoas denunciarem os autores destas práticas ilícitas: “Existe o Decreto Lei 35/99, mas as pessoas desconhecem. Esse decreto regula um pouco aquilo que é a extracção de areia e vem dizer ainda que as pessoas quando denunciam os infractores, elas poderão beneficiar daquilo que pode ser o resultado da coima aplicada ao infractor. É necessário dar mais publicidade a este diploma”. 

A exibição da reportagem “Areia da Morte” foi feita no Centro Cultural Português no âmbito da primeira Quinzena da Cidadania, que decorre no país até ao dia 30 deste mês. Uma iniciativa no quadro do projecto Mais Participação, Mais Cidadania executado pela Associação para a Cooperação Entre os Povos, a Associação de Jornalistas Santomenses, a Fundação Novo Futuro e a Plataforma de Direitos Humanos e Equidade de Género e a FONG-STP 

Um projecto que mereceu elogios por parte do jornalista e director da Televisão São-tomense José Bouças de Oliveira. “Esta quinzena é muito importante porque vem despertar a consciência das pessoas para a cidadania. É uma iniciativa de salutar, porque a sociedade civil, desde que seja organizada, deve contribuir para o desenvolvimento da sua comunidade e do seu país. Portanto a FONG-STP tem feito o seu papel e gostaria de realçar aqui o trabalho que têm feito na vertente de Monitoria de Ajuda ao Desenvolvimento. Têm feito esse trabalho ao nível do Orçamento Geral do Estado e eu gostaria de apelar à FONG para que continue, pois só assim estaremos a contribuir para o progresso e bem estar do nosso povo”. 

Recorde-se que ao longo de suas semanas serão realizados concertos, sessões de cinema, tertúlias, teatro e workshop. Duas semanas ricas em actividades de e para a sociedade civil.

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